quinta-feira, 28 de abril de 2011

Não ia contar tão cedo...


Quando era garoto eu não me sentia atraido nem pelas meninas nem pelos meninos. Era esquisito pois meus colegas e primos já se interessavam pelas meninas há um tempo e eu não sentia nada. Até que aos poucos fui vendo que gostava mesmo era de meninos. Mas isso foi tranquilo, nunca me senti culpado, sabia que eu era diferente e guardava para mim. 

Muitos me contaram como foi difícil descobrir do que realmente gostavam e como se culpavam por serem homossexuais. Acho que convivi até bem com esse fato. Na minha criação não fui muito envolvido com religião e meus pais não eram muito conservadores. O que fez com que eu não tivesse uma opinião formada de como as pessoas deveriam ser e nunca me culpei por ser assim. 

Na verdade, a minha sexualidade meio que ficava em segundo plano. Vivia minha vida da melhor maneira possível mas sempre fugindo de situações em que me sentia desconfortável. Eu ficava muito sem jeito quando os caras começavam a falar de mulher, e paralisado quando falavam sobre gays. Eu tinha vergonha de dizer alguma coisa e fazer com que percebessem que eu era homossexual. Tinha medo das pessoas se afastarem de mim, por esse motivo me reprimia para ser aceito pela sociedade.

Só quando vim estudar em Viçosa que conheci outros homossexuais e comecei a criar laços de amizade. Conversava, trocava experiências, e eu ser gay se tornou super natural. Me soltei e, num certo limite, não ligava para o que os outros pensavam de mim. Pelo menos em um grupo eu tinha uma vida perfeitamente normal. Só com os colegas de faculdade que ainda me sentia travado em alguns aspectos, mas com o tempo fui deixando de lado essa preocupação excessiva de me esconder, leia-se proteger, e desapeguei. 

Vivi os últimos tempos dessa forma: não me preocupo com o que vão pensar de mim, mas também não saio levantando bandeira. Contei para alguns amigos que eu era gay (mais como formalidade e apra terem certeza) e estava tudo perfeitamente bem. O único problema é que nunca assumi para a família.

O meu maior medo de contar aos meus pais era que eu não poderia prever as reações. Mesmo tendo a impressão que iriam ser compreensivos, não era uma certeza. Sei de muitos casos que os pais não aceitam o fato do filho ser gay e o expulsam de casa, param de dar assistência. Eu dependo totalmente dos meus pais, não trabalho e tudo o que eu tenho vem deles. Caso tomassem alguma atitude semelhante eu estaria totalmente desamparado. 

Além do medo eu também não via porque contar isso aos  meus pais. Mesmo que aceite, um pai nunca quer que o filho seja gay, é um tipo de decepção. E causar sofrimento sem motivo não era algo que eu planejava.  Daí decidi que só iria me assumir para minha família quando estivesse formado e financeiramente independente.

O que eu não esperava era o que aconteceu semana passada, minha mãe pedir pra conversar comigo e perguntar se eu era gay. Ela realmente me pegou desprevenido com essa pergunta. Eu já sou seguro do que eu sou há um bom tempo mas eu sempre relutei em discutir isso em casa. Realmente não teria como eu negar, devido a conduta que tenho a um bom tempo. Confesso que não foi tão fácil falar mas acabei contando a verdade.

Foi a minha conduta quando estava em BH no feriado que causou a conversa com a minha mãe. Eu estar saindo várias vezes a noite e chegando em casa tarde ou indo dormir na casa de um amigo, que meus pais não conheciam, incitou a dúvida no meu pai. Ele resolveu comentar com a minha mãe que eu pudesse ser gay e estava escondendo um possível namorado. Já que eles não sabiam quem era o meu amigo, eu me preocupava muito com a aparência e nunca tinha tido uma namorada. Um estereótipo de gay. Minha mãe ficou muito inquieta com a dúvida e precisava muito ter certeza, por isso quis conversar comigo.

A reação da minha mãe até que foi bacana. Ela ficou bastante sem rumo com a situação inesperada, mas demonstrou interesse em saber como eu me sentia e me deu apoio. Já o meu pai ficou muito decepcionado, ficou muito sério e nem conversou comigo depois que minha mãe contou a ele. Só no outro dia que voltou a me tratar normalmente, e não parou pra conversar sobre o assunto. Eu mesmo fiquei muito exaltado porque realmente não esperava e as coisas praticamente se desenrolaram sozinhas.

Agora estou em uma nova fase da minha vida. Não tenho mais a necessidade de me privar e ter que ficar inventando desculpas para os meus pais. Minha família sabe quem realmente eu sou, não preciso de ter medo. Afinal eles são a minha base e são as pessoas que vou sempre poder contar.

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